Ancestrais
"A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou"
Ouvia as histórias sentado, quieto, olhos abertos querendo engolir a figura falante, o corpo inclinado para frente em expectativa.
"Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou"
E havia as músicas, ah, canções simples e fortes de um tempo que jamais conheci.
"sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?"
Quem poderia dizer o que viria, e apesar da memória o tempo passa, o corpo e seu enchimento de carne vai falhando.
"Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou"
A boca contadora balbucia, a mente imaginativa hoje é fugidia, e a lucidez só visita ocasionalmente.
"Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse...."
Contava e ouvia as histórias e canções, sentado e quieto, agora eu, já sem platéia.
(Pai do pai do pai..., Pedro de Caldas Gomes; José, Drummond)
2 Comments:
I'm in the mood...
bela melancólica fotografia.
bela tradução.
são.
a foto é perfeita e diz tudo... semânticas... até Drummond perdeu.
Postar um comentário
<< Home